Acesso ao financiamento para PMEs lideradas por mulheres na América Latina e Caribe: desafios e oportunidades

O mundo conta com mulheres presentes em todas as indústrias e áreas: criativas, estrategistas, administradoras, comunicadoras, em resumo: líderes. Milhares delas têm grandes ideias e o sonho de empreender na América Latina e no Caribe. No entanto, um dos maiores desafios que enfrentam é o acesso ao financiamento. Mesmo liderando empresas com alto potencial e gerando impacto em suas comunidades, obter crédito e investimentos continua sendo uma tarefa difícil.

As barreiras variam desde a falta de educação financeira até a ausência de garantias para aprovação de empréstimos, mas existem oportunidades para transformar essa realidade.

As micro, pequenas e médias empresas (MPMEs) são o motor econômico do mundo. De acordo com dados do SME Finance Forum (2023), elas representam 40% do PIB em economias emergentes e geram dois terços de todos os empregos a nível mundial. No entanto, o acesso ao financiamento continua sendo um obstáculo.

Segundo o mesmo relatório, 41% das PMEs nos países em desenvolvimento possuem necessidades financeiras não atendidas, o que representa mais de 5 trilhões de dólares em demanda não coberta. Além disso, quase 30% das PMEs na América Latina e Caribe enfrentam restrições ao financiamento. Mais alarmante ainda, as empresas lideradas por mulheres na região encaram um déficit financeiro de 93 bilhões de dólares — ou seja, o dinheiro que precisam, mas não conseguem obter —, representando 8% da lacuna global de financiamento para PMEs lideradas por mulheres.

Uma pesquisa recente* conduzida com um grupo de empresas lideradas por mulheres registradas na Mulheres ConnectAmericas (MCA) revelou dados importantes sobre o acesso ao financiamento:

• Mais da metade das mulheres entrevistadas nunca solicitou financiamento porque acreditam que seus negócios são pequenos demais ou que não possuem garantias suficientes.

• O autofinanciamento surge como a principal fonte de recursos.

• Entre aquelas que já buscaram financiamento ao menos uma vez, 75% conseguiram aprovação.

• As principais razões para rejeição foram: falta de garantias, histórico de crédito insuficiente e baixa capacidade de pagamento.

Os principais obstáculos identificados pelas empresárias entrevistadas incluem:

• Falta de garantias para serem elegíveis junto às instituições financeiras

• Taxas de juros elevadas

• Ausência de instrumentos financeiros adequados ao porte de suas empresas

A pesquisa também revelou que 90% das respondentes consideram necessárias opções de financiamento exclusivas para mulheres, enquanto 80% nunca receberam treinamentos sobre acesso ao financiamento, destacando a importância da educação financeira e da assessoria personalizada.

Esses resultados reforçam o que a literatura especializada aponta: muitas mulheres empreendedoras enfrentam desafios estruturais — como a falta de garantias, as altas taxas de juros e a limitada educação financeira —, além de barreiras intangíveis, como a percepção de que seus negócios não são elegíveis para crédito. Esse ciclo perpetua a falta de acesso ao crédito e limita o crescimento de seus negócios.

Apesar dos desafios, iniciativas inovadoras estão transformando esse cenário:

• Bancos de desenvolvimento com programas focados em gênero: Segundo o relatório "Financing Programs for Women's Financial Inclusion and Access to Finance for Women MSMEs" (BID, 2023), 91% dos bancos de desenvolvimento oferecem produtos financeiros voltados para mulheres, como empréstimos com taxas preferenciais e sem garantias tradicionais.

• Inovação em fintechs: Empresas de tecnologia financeira estão utilizando dados alternativos para avaliar a capacidade de pagamento das empreendedoras, eliminando a necessidade de histórico de crédito convencional.

• Redes de apoio: Plataformas como Mulheres ConnectAmericas oferecem uma ampla gama de recursos educativos sobre finanças empresariais e promovem eventos de networking que conectam as empreendedoras a oportunidades comerciais e financeiras.

Além disso, há uma grande oportunidade para que as instituições financeiras invistam em dados desagregados por gênero, já que 84% delas apontam essa falta de informação como o maior desafio para ampliar o financiamento inclusivo.

No entanto, enfrentar as barreiras intangíveis, como a autopercepção de não ser elegível para financiamento, também é fundamental. As oportunidades vão além da criação de produtos financeiros inovadores — envolvem cultivar uma mentalidade de crescimento e fortalecer a confiança das mulheres empreendedoras. A educação financeira é essencial, mas também é importante promover uma mudança de perspectiva: adotar um moonshot mindset, onde as mulheres não apenas almejam o possível, mas também o extraordinário. Acreditar que seus negócios podem crescer, que elas merecem investir neles e que assumir riscos calculados faz parte do caminho é essencial para impulsionar a mudança. A curiosidade, a coragem de pensar grande e a disposição para explorar novas oportunidades são elementos que podem transformar suas trajetórias empresariais.

Diante desse cenário, e com o objetivo de reduzir a desigualdade de gênero no acesso ao crédito, Mulheres ConnectAmericas lançará em 2025 o Challenge de Acesso ao Financiamento, um programa online e gratuito que oferecerá capacitação, assistência técnica e matchmaking financeiro para PMEs lideradas por mulheres na região. O objetivo é fortalecer sua estrutura financeira e facilitar o acesso a novos recursos econômicos e investimentos.

Histórias de sucesso de empreendedoras na América Latina e no Caribe mostram que conhecimento, oportunidade e conexões são fundamentais para que mais mulheres consigam financiar seus sonhos e ampliar seus negócios.

2025: Transformação financeira para mulheres empresárias

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O acesso ao financiamento para mulheres empreendedoras na América Latina e no Caribe é um tema urgente. Esperamos que cada vez mais oportunidades surjam para que as mulheres possam fortalecer seus negócios.

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*Pesquisa realizada pela Mulheres ConnectAmericas entre dezembro de 2024 e janeiro de 2025, com 381 respostas.